terça-feira, 19 de abril de 2016

A viagem de Sofia

A viagem de Sofia

            Não é todos os dias que encontramos alguém que nos marque para a vida. Mas lá por não ser todos os dias, não quer dizer que estes dias não existam.
            Olá! Eu chamo-me Sofia e tenho onze anos. Sempre me considerei uma pessoa capaz de compreender os outros, ler os seus sentimentos. Gosto de me ver a mim mesma como uma pessoa atenta, inteligente e intelectual. Também consigo analisar-me e sou portadora de uma característica que poucos têm: a autocrítica. Sei muito bem quais são os meus defeitos e tento sempre corrigi-los.
            Sempre fui uma apaixonada pela Grécia Antiga. Fascinam-me as lendas e os mitos daquele tempo. A ideia de que possam existir ou ter existido realmente Deuses, confunde-me muito, mas a curiosidade que é tanta que nem tenho tempo para meditar sobre esse sentimento, e parto logo para os livros de História, para ficar a saber mais alguma lenda ou facto interessante.
            O que acontece com muita frequência é eu estar na aula de Matemática a sonhar sobre como seria a vida desses Deuses, deixando as equações por fazer. Quando a professora repara na minha distração, começa logo a barafustar comigo. A mim, apetece-me dar-lhe uma resposta daquelas boas, mas lá me consigo acalmar, pois não quero perder o meu valioso 5, que tinha alcançado com tanto esforço.
            O tempo foi passando e entre as bulhas com a professora de Matemática, os trabalhos e os amigos, chegaram as férias de verão. Cheguei a casa, estafada, depois de um ano de novas emoções, amizades e experiências.
Mal sabia eu que naquele dia iria receber uma das melhores notícias da minha vida: os meus pais iriam levar-me à Grécia, logo no dia seguinte, para poder aprender mais sobre a Mitologia Grega! Fiquei-lhes muito agradecida, claro, pois bem sei que os tempos não são os melhores. Corri logo a fazer mala, pensando sobre quão maravilhosa iria ser aquela experiência.
No dia seguinte, depois da deslocação ao aeroporto, da viagem e de todas as coisas que se fazem durante a mesma, lá chegámos à minha querida e adorada Grécia. Depois de um dia a visitar museus e monumentos, parámos num parque onde, incrivelmente, todas as flores eram vermelhas.
Estava eu a lanchar, quando chegou ao pé de mim um menino, que me cumprimentou. Eu percebi que ele queria uma parte do meu pão, e portanto dei-lhe um bocadinho. Ele comeu-o tão depressa e com tanta satisfação, que me vi obrigada a olhá-lo com mais atenção. Estava realmente num estado deplorável: os sapatos e a camisola estavam rotos e tinha umas calças que lhe ficavam curtas e apertadas. Atrevi-me a dizer-lhe «olá» e perguntei-lhe como se chamava e porque usava roupas velhas.
- Chamo-me Igor. Uso estas roupas porque, de momento, não tenho mais dinheiro para comprar melhores.
Fiquei chocada, pois sabia que havia pessoas com pouco dinheiro, mas nunca conheci nenhuma numa situação em que precisasse de usar roupas velhas, sujas e estragadas, por falta de posses.
Fomos conversando e, no final da tarde, quando eu tinha que voltar ao hotel, combinámos que a partir daquele dia, iríamos encontrar-nos todos os dias, naquele mesmo parque, à mesma hora.
Conforme o tempo foi passando, reparei que ele era um rapaz bastante inteligente. Perguntei-lhe se andava na escola e ele respondeu que sim, embora os pais não tivessem dinheiro para comprar os livros e ele estudasse pelos resumos que os professores faziam, conseguindo mesmo assim tirar boas notas.
Conversávamos sobre a escola, os Deuses Gregos e sobre a dificuldade de crescer, de nos apercebermos dos nossos sentimentos e de formarmos uma opinião própria.
Quando chegou o dia de eu voltar para casa e nos encontramos pela última vez ele disse-me:
- Toma. – e estendeu-me um lápis velho, todo roído – Este lápis é para ti. Sempre que te sentires triste pega nele e pensa em mim, e logo terás força para lutar contra todos os males.
Olhei-o com lágrimas nos olhos, peguei no lápis e guardei-o no sítio mais seguro de todos, o sítio onde duraria para sempre: no coração.

A verdade é que ainda hoje me socorro desse lápis. Sempre que me sinto triste, imagino-me naquele jardim onde todas as flores eram vermelhas, com aquele rapazinho de camisola e sapatos rotos, e instantaneamente me sinto melhor. Sempre que me sinto zangada, atacada ou com vontade de desistir, uso aquele lápis, que para mim se tornou um símbolo de força e do que nos torna, afinal de contas, humanos.

Alunos do 5º G


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